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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Vou para a Cidade Celestial

"O homem, então, começou a correr. Ora, nem havia ainda se distanciado da porta de casa quando sua mulher e seus filhos, percebendo, começaram a gritar-lhe que voltasse. Mas o homem tapou os ouvidos com os dedos e continuou correndo, berrando: "Vida, vida, vida eterna." Então não olhou para trás, mas continuou correndo para o centro da campina (Gn 19:17).
Os vizinhos também vieram vê-lo a correr, e enquanto corria, alguns escarneciam, outros ameaçavam, outros ainda gritavam-lhe que voltasse. Ora, entre esses, dois decidiram trazê-lo de volta à força. O nome de um deles era Obstinado, e o outro se chamava Volúvel. A essa altura, contudo, o homem já estava a boa distância deles, mas mesmo assim eles resolveram persegui-lo, e em pouco tempo o alcançaram. Disse-lhes o homem:
– Vizinhos, por que vieram atrás de mim?
– Para convencê-lo a voltar conosco.
– Isso não é possível. Vocês moram na Cidade da Destruição, local onde também eu nasci. Percebo e lhes digo que, morrendo ali, mais cedo ou mais tarde vocês afundarão além da sepultura, até um lugar que queima com fogo e enxofre. Alegrem-se, bons vizinhos, e acompanhem-me. 
– O quê? – disse Obstinado. – Deixar nossos amigos e conforto para trás?
– Isso mesmo, disse Cristão (pois era esse seu nome) –, porque tudo isso que vocês abandonarão não é digno de se comparar nem com um mínimo daquilo que busco desfrutar. Se vocês vierem comigo, e o alcançarem, desfrutarão também, assim como eu, pois lá para onde vou há bastante e de sobra. Venham e comprovem minhas palavras.
Obstinado – Que coisas são essas que você procura e pelas quais abandona o mundo todo?
Cristão – Busco uma "herança que jamais poderá perecer, macular-se ou perder o seu valor" (I Pe 1:4), e ela está guardada no céu, em segurança, para ser distribuída no tempo devido àqueles que a perseguirem com zelo. Leiam, se quiserem, no meu livro."

                                                                  Trecho de O Peregrino, John Bunyan

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Eu sei.

Porque os Teus pensamentos
 São mais altos que os meus 
E a Tua vontade é boa, 
Perfeita e agradável 
Que eu sei que será bom. 
Porque confiar, 
Esperar e descansar em Ti 
É sempre a minha melhor escolha. 
Porque o Teu cuidado me fortalece, 
Teu amor me renova, 
Tua palavra me alimenta 
E a Tua voz me acalma. 
Porque o Senhor me livra 
Antes que eu tropece
 E me levanta quando eu caio. 
Porque o Senhor me faz forte 
Quando estou fraca. 
E só me pede para ter fé
E confiar em Ti. 
Porque está cuidando de tudo. 
E porque a Tua paz 
Excede todo o entendimento. 
Que eu sei. 
Que todas as coisas cooperam
 Para o bem 
Daqueles que amam a Deus. 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Aurora

O sonho que alimenta. A esperança que não morre.
A voz que não se cala. O choro que lava a alma.
O coração quebrantado. A força que vem dos céus.
O tempo que ensina. A paz que só Ele nos dá.
O amor que transforma. A fé que renova. A vida que renasce.
Aprender. Conhecer. Entender. Não entender. Agradecer.
Recomeçar ao nascer do sol.
Aurora.


domingo, 1 de dezembro de 2013

Pra quê mesmo que eu vivo?

Sou uma grande fã da música e na maioria das vezes uso-a como inspiração para a vida. Pois bem, nas últimas semanas, uma música que eu tenho escutado muito e que muito tem falado comigo é "E se" do cantor, compositor e poeta Stênio Marcius, bastante conhecido no meio gospel. A música já foi postada há algum tempo no blog e pode ser ouvida e lida aqui. Antes de falar da música quero mencionar algo que vi e ficou guardado em minha memória [e coração]. Certa vez, olhando alguns vídeos no Youtube, encontrei um vídeo de John Piper em que alguém lhe perguntou por qual razão Deus, que pode e sabe de todas as coisas, não permitia que fôssemos sempre felizes, porque sempre temos problemas e temos que enfrentar barreiras, porque estamos sempre sofrendo com algo, sempre estamos angustiados (confesso que antes disso já havia me feito estas perguntas muitas vezes). Piper respondeu que isso acontece porque se tivéssemos tudo o que queremos, e se pudéssemos fazer todas as coisas e ter uma vida feliz, fácil e sem passar por qualquer transgressão, não precisaríamos de Cristo, não oraríamos, não iríamos buscá-Lo nem dizer que renunciamos a todas as nossas vontades para que seja feita a vontade dEle. Deus não seria glorificado por nós se não passássemos por sofrimento algum, pois é durante as transgressões que nós, pecadores, nos lembramos do quanto Deus nos ama e que Ele está no controle de tudo, olhando, cuidando e nos protegendo, e nos lembramos do que Ele fez por nós [na cruz]. Agora, voltando à letra de Stênio Marcius, em um dos trechos ele diz "E se eu perdesse tudo, será que contudo me alegraria em Deus?", essa pergunta nos leva a pensar em como é nossa vida com Deus, nosso relacionamento com Ele. Será que colocamos toda a nossa esperança, nossa fé e, inclusive, nossas angústias nEle? Será que a nossa alegria está em Deus? Será que se perdêssemos aquilo que mais amamos, conseguiríamos ainda estar felizes? Para responder a estas perguntas devemos nos fazer outra, que também está na letra de Stênio, "Pra quê mesmo que eu vivo, onde está minha alegria?". Em razão da nossa condição de seres humanos, de homem pecador, vivemos para satisfazer nossos prazeres, vivemos para conquistar aquilo que desejamos e muitas vezes sem nem pedir a ajuda de Deus, vivemos depositando nossa confiança, nossas expectativas em homens que são pecadores como nós, homens que erram, que decepcionam e são decepcionados. Colocamos nossa alegria nos prazeres da carne, e por esta razão ficamos tristes e decepcionados a todo instante. Uma vida com Deus não nos garante uma vida sem dificuldades, mas quando nossa alegria está nEle, quando Ele é quem mais amamos e por quem vivemos, todas as outras coisas não importam mais, porque é por Ele que vivemos, para honrá-Lo, adorá-Lo e glorificá-Lo. É nEle que esperamos e Ele não nos decepciona nunca. Seus planos não podem ser frustrados, e por conta disso, nosso Deus será glorificado em nossas vidas, pois mesmo quando estamos passando por problemas, Ele está conosco nos ensinando, guiando e nos fazendo crescer, pois reconhecemos que não somos nada sem Ele, que somos totalmente dependentes da Sua Graça e que sem ela não podemos e não queremos viver. Quando vivemos por Cristo e para Ele, mesmo que tudo dê errado não nos deixamos entristecer porque nossa alegria não estava naquilo que não deu certo, mas está em Cristo, e nesse momento reconhecemos que precisamos de Deus, que somos dependentes dEle e que somos fracos, e quando reconhecemos que somos fracos podemos dizer como Paulo disse em 2 Coríntios 12:10b: "Porque quando estou fraco, então, sou forte." Que a nossa alegria esteja somente em Deus!

A MULHER PENSANTE

Já faz um tempinho que não publico no blog, mas hoje pra acabar com o hiato, tem post novo, um texto da amiga querida Naira Dau. A Nairinha é uma amiga muito amada lá de BH [ê saudade!], companheira de gostos por livros e músicas e ainda compartilhamos da mesma paixão: ler e escrever. Então, vamos lá! :)

A gente ama é por dentro, nos apaixonamos pelo que é, e que nos permite sermos nós mesmos, que nos constrói, mas essa época pós-moderna (ou também chamada de hipermoderna) busca envolver os seres humanos apenas pelo contato exterior, pela busca do prazer do corpo. E isso se torna lamentável quando se insere em nossas igrejas e o ensino do exterior se torna mais evidente que a construção do homem interior, que ensina as mulheres a serem “princesas cristãs para conquistar o príncipe ‘ungido de Deus’” e que para isso é preciso moldar-se pelas etiquetas de comportamento. Eu posso estar completamente errada em minha opinião, sei que muito do que penso agora precisa ser cuidadosamente lapidado pelo ensino da Palavra, mas sempre detestei aqueles livros de “O que um rapaz espera de uma moça”, “10 coisas que toda moça que quer casar precisa saber”, “Como atrair o homem de Deus”, sempre fui da opinião que é preciso gostar por dentro, gostar do que sou e se eu não for o que um rapaz espera então prefiro continuar convivendo comigo, afinal vou morrer comigo e é bom que eu goste da convivência antes de tudo. Sou da opinião que não existe padrão de mulher certa, mas sim mulheres sendo forjadas em seu caráter à luz da Palavra, aprendendo a ser submissas em amor e dotadas de dons interiores. É tão opressor ser quem não somos e tão bom estar feliz com a gente. E tudo o que eu penso concorda com uma frase de John Piper “Se queremos ver o casamento assumir o lugar que ele deve ter no mundo e na igreja, ou seja, se queremos que o casamento glorifique a verdade, o valor, a beleza e a grandeza de Deus, devemos ensinar e pregar menos sobre o casamento e mais sobre Deus”.
E mais, me causa enorme espanto ainda ouvir coisas do tipo “à mulher não é dada a razão”, quanto mais ser proferido de uma jovem cristã nos dias de hoje. Mas, graças a Deus não precisarei gastar tantas palavras para refutar tal ideia, já que desde o século XVI, mulheres como Olympia Morata desmascararam tais absurdos, mulher de tão grande virtude e inteligência, que foi capaz de ser uma grande colaboradora da Reforma e de se sentar à mesa em grandes debates com homens como Lutero e Calvino, e proclamar o evangelho a tantos. Se alguém, por acaso, pensa que minhas palavras se revelam contra a submissão, não entenderam nada do que quero dizer, e como chegaram a tal ligação entre a mulher que pensa com a insubmissa eu não sei, penso ser um grande problema de estudo e interpretação da Palavra, mas também não espere que lhes diga que para esse ensino indicarei palestras sobre “princesas cristãs”, recorro-me às mulheres da bíblia e lhes mostro a beleza da mulher a serviço de sua família, ou mesmo, ainda, ao grande século XVI, a Idelette D’Bures, esposa de Calvino, que com grande esplendor, discrição e completa dedicação ao lar, possibilitou Calvino ser o que foi em sua grande obra, ou Katharina Von Bora, esposa de Lutero, que teve a honra de ouvir de seu marido que não seria nada do que foi sem ela.
Sobre isso, um grande teólogo norte-americano de nossa época, N.T. Wright, em uma entrevista dada ao site americano sobre seu novo livro, que não trata especificamente sobre isso, disse, ao ser questionado sobre alguns cristãos modernos criticando Paulo como “machista” ou mesmo “anti-mulheres”: “Esta visão é deprimente e superficial. Paulo, como os outros cristãos e como o próprio Jesus, viveu em um mundo complexo, onde, apesar do que alguns pensam, muitas mulheres eram capazes de viver vidas independentes, com empresas geridas, viagens, e assim por diante, enquanto que muitos outros fizeram parte das estruturas tradicionais que ainda reduziram suas opções. Um mundo muito parecido com o nosso, de fato! Em que, a mensagem principal era que Paulo diz em (Gálatas 3.28): "no Messias, Jesus, não há judeu nem grego, escravo nem livre, nem "homem e mulher". Podemos ver isso funcionando quando ele se refere à Júnias como uma "apóstola", e no mesmo capítulo (Romanos 16) mencionar várias outras mulheres que estão em posições de liderança na igreja e onde, também, ele dá a Febe a tarefa de levar a carta a Roma, que quase certamente significava que ela iria lê-la para fora e explicar para as casas-igrejas.” Achei esta resposta tão revolucionária que preciso muito estudar sobre isso, mas cabe aqui sua visão sobre o que tento dizer.
Então, sinceramente, não me venha com palavras de que para a mulher a racionalização não pode ser grande nem a maior virtude, que se contrapõe aos seus “deveres”, então eu digo que prefiro continuar pensante, com toda capacidade dada por Deus (incrível pensar que Deus deu esse dom a nós mulheres não é, se deveríamos agir somente a base de sentimentalismo) do que ser tão vazia para dizer tais palavras.

Até o poetinha descreveu a mulher que não devemos ser:

AS MULHERES OCAS
Rio de Janeiro , 1962
Headpiece filled with siraw
T.S. Eliot, "The Hollow Men"

Nós somos as inorgânicas
Frias estátuas de talco
Com hálito de champagne
E pernas de salto alto
Nossa pele fluorescente
É doce e refrigerada
E em nossa conversa ausente
Tudo não quer dizer nada.

Nós somos as longilíneas
Lentas madonas de boate
Iluminamos as pistas
Com nossos rostos de opala.
Vamos em câmara lenta
Sem sorrir demasiado
E olhamos como sem ver
Com nossos olhos cromados.

Nós somos as sonolentas
Monjas do tédio inconsútil
Em nosso escuro convento
A ordem manda ser fútil
Fomos alunas bilíngües
De "Sacre-Coeur" e "Sion"
Mas adorar, só adoramos
A imagem do deus Mamon.

Nós somos as grã-funestas
Filhas do Ouro com a Miséria
O gênio nos enfastia
E a estupidez nos diverte.
Amamos a vida fria
E tudo o que nos espelha
Na asséptica companhia
Dos nossos machos-de-abelha.

Nós somos as bailarinas
Pressagas do cataclismo
Dançando a dança da moda
Na corda bamba do abismo.
Mas nada nos incomoda
De vez que há sempre quem paga
O luxo de entrar na roda
Em Arpels ou Balenciaga.

Nós somos as grã-funestas
As onézimas letais*
Dormimos a nossa sesta
Em ataúdes de cristal
E só tiramos do rosto
Nossa máscara de cal
Para o drinque do sol posto
Com o cronista social. 

Vinicius de Moraes.

Considerações:
É minha percepção, estou aprendendo, estudando e clamando para ser guiada pelo Espírito Santo nos estudos de Sua Palavra.
Ufa, ainda existem bons ensinamento hoje!
Livros que li sobre o assunto: Preparando-se para o casamento – John Piper; Quando pecadores dizem sim – Dave Harvey.
De onde tirei o que falei sobre as mulheres do século XVI? – Grandes Mulheres da Reforma – Jame L. Good.


domingo, 6 de outubro de 2013

E se - Stênio Marcius

A figueira não floresce
Não há fruto na videira
O produto da oliveira mente
E os campos não produzem
O curral está vazio
O aprisco está deserto

Tudo isso se passando
E o profeta mesmo assim vai se alegrando em Deus

Mas e se fosse comigo
Pra quê mesmo que eu vivo
Onde está minha alegria?
E se a dor for minha sina
Será que ainda faço rima
Canto alegre a melodia?

E se eu perdesse tudo, será que contudo me alegraria em Deus?

Eu quero ser, não quero ter
Eu quero crer, não quero ver

Que minha alegria seja tão somente me lembrar de Ti, meu Deus!
Viver e só de Ti viver!
Morrer ansioso por te ver
É minha oração
É assim que eu queria ser

Stênio Marcius




segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Quem sou?

Quem sou? 
Frequentemente me dizem que saí do confinamento de minha cela 
Tranquilo, alegre e firme como um senhor de sua mansão de campo.
Quem sou? 
Frequentemente me dizem que costumo falar com os guardiões da prisão 
Confiada, livre e claramente, como se eu desse as ordens.
Quem sou? 
Também me dizem que superei os dias de infortúnio
Orgulhosa e amavelmente, sorrindo, como quem está habituado a triunfar.

Sou, na verdade, tudo o que os demais dizem de mim?
Ou sou somente o que eu sei de mim mesmo?
Inquieto, ansioso e enfermo, como uma ave enjaulada,
Pugnado por respirar, como se me afogasse,
Sedento de cores, flores, canto de pássaros,
Faminto de palavras bondosas, de amabilidade,
Com a expectativa de grandes feitos, temendo, impotente,
Pela sorte de amigos distantes,
Cansado e vazio de orar, de pensar, de fazer,
Exausto e disposto a dizer adeus a tudo.

Quem sou? Esse ou aquele?
Um agora e outro depois?
Ou ambos de uma vez?
Hipócrita perante os demais e, diante de mim mesmo, um débil acabado?
Ou há, dentro de mim, algo como um exército derrotado
Que foge desordenadamente da vitória já alcancada?

Quem sou?
Escarnecem de mim essas solitárias perguntas minhas;
Seja o que for, Tu o sabes, ó Deus: sou Teu!

Dietrich Bonhoeffer